domingo, 20 de novembro de 2022
domingo, 13 de novembro de 2022
Novo livro
Apresentação
A
ODISSEIA DO POETA EM SEU LABIRINTO
Dizem que o poeta é um visionário, ou
que a poeta é uma ‘antena da raça’, ou que a poeta diz o que precisa ser dito,
ou que o poeta é quem diz aquilo que não saberíamos dizer. Também dizem que o
poeta só sabe falar de si mesmo, ou que vive numa ‘torre de marfim’, e que a
poeta só se envolve com belezas e perfumes e arco-íris. Dizem muito sobre os
poetas, inclusive que estes ‘mentem demais’.
Sempre dizem algo sobre o poeta, ou acusam a poeta, ou
desacreditam a Poesia. Faz parte do jogo dos discursos. Discursos que se
alternam ao longo do tempo, que oscilam, de um lado para outro, ora
autoritários, ora libertários, ora conservadores, ora subversivos, de acordo
com a sucessão dos Zeitgeiste, os ‘espíritos das épocas’, ou seja, os
movimentos de ascensão e decadência de políticas e de tendências e de estilos
artísticos.
Muitas vezes o Poeta pouco se importa com categorias e
julgamentos, e segue sua obra poética em paralelo ou afronta ao estabelecido.
Sua arte é sua defesa e também um labirinto onde ele ou ela se protege, mesmo
que se perdendo. O Poeta fala de si mesmo mas falando do mundo ao redor, a
partir de sua perspectiva. É assim em Letras reverberando em nuvens submersas
[2022] obra do poeta Israel Faria que vem dialogar com sua época, mesmo quando
fala sozinho consigo mesmo, em seu próprio labirinto psíquico e estético,
meu universo é meu labirinto caleidoscópio, as cores não são cinza quase, talvez reflexo palidez e/ou negror lâmina e corte (O silêncio da hora uivada)
O poeta percebe se locomover dentro de condições e de possibilidades, que são limites e desafios a serem transpostos e superados, nos degraus da evolução do sofrimento e da angústia até o amadurecimento e a consciência, para além de suas amarras,
Não venham retirar de mim todas as possibilidades
de angústia de vertigem de solitude todas as impossibilidades de sucesso de felicidade de amadurecimento.
A fala do Poeta – o seu poema – é um ladrar, um uivar contra as amarras das condições físicas, psíquicas, sociais, numa tentativa de desabafo, testemunho e tentativa de equilíbrio, ainda que precário e efêmero
O poema ladra cleptomaniacamente
tenta
irromper, o
poema está de sentinela, seguro
de sua não verbalização, o
poema se
equilibra, lá
embaixo só barro
e pó, o
poema despenca, e
não sou eu que vou amparar [O
poema]
Venho tentando manter a
atenção o
foco a sutileza dos
detalhes, tentando um
equilíbrio um
certo entendimento vago
e disperso perto
do que não
se distingue [Venho
tentando]
O que sobrou de suas tentativas de desafio são as linhas que ora recebemos e enfim lemos em sua obra poética, como um testemunho de sua emoção, e de sua missão, no mundo de celas acolchoadas, que oprime com promessas e encantamentos de serpentes, com elogios e medalhas, estas correntes macias da ilusão,
O Poeta em sua obra sente que
está sozinho, mas já não teme a solidão, ao contrário, é a partir desta que o
autor Israel Faria vem tecer e então gravar estas Letras reverberando em nuvens
submersas, seu desabafo e seu testemunho, em desassossegos prosaicos e em
perambulações líricas em torno de seu próprio labirinto,
Já não temo mais a solidão. Tenho um par de tênis para lavar, meia dúzia de livros ainda não lidos, tenho que apagar todos aqueles nomes na parede e outros tantos
na agenda. [Não temo mais a solidão]