segunda-feira, 28 de março de 2022

Na manhã da sua sentença

 

Na manhã da sua desventura
pediste pastel de queijo e café com adoçante;  
  
naquela manhã
pedi pra ela deixar a janela aberta.
 
Na manhã da sua descoberta
pediste o cacto que, velho, não floria mais;
 
naquela manhã
pedi pra ela colocar aquele som armorial.
 
Na manhã da sua descaída  
pediste a exclusão de todas as fotografias;
 
naquela manhã
pedi pra ela afiar as adagas.
 
Na manhã da sua despedida 
pediste a imediata queima dos livros que ousei indicar;   
 
naquela manhã
pedi pra ela nos servir o derradeiro vinho.
 
Na manhã da sua sentença
pediste com aquele peculiar rigor que eu não duvidasse do fim;
 
naquela manhã
obedeci.

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