domingo, 24 de fevereiro de 2013

Nenhum(a)


Nenhum êxodo para acompanhar
Nenhuma cruzada
Nenhum éden/inferno
Nenhuma fuga de clausura
Nenhum horizonte perdido
Nenhuma diáspora
Nenhum mar para atravessar
Nenhuma marcha de retirantes
Nenhum sul/norte
Nenhuma travessia
Nenhum perdão
Nenhuma procissão
Nenhum podium
Nenhuma manifestação
Nenhum conclave
Nenhuma eleição
Nada a não ser a profundidade rasa  
Do avesso propósito.    

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Indo Embora


Minha querida, pra que isso?
Não tente dar demasiada importância
ao que já não tem nenhuma mais.
Vazio escuro e profundo
entre o firmamento e o que
achávamos que era,
que poderíamos ser.
Volte lá pra dentro,
coloque aquela música que
agrada à quase todos
(da qual não compartilho),
apresente o apetitoso prato
advindo da sua nova receita
adquirida na rede social.
E, claro, sorria, sorria muito e
pareça feliz.
Aqui me despeço,
o Anticristo e a Melancolia
esperam-me. 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Recordações


Sentimento insepulto.
Resolvi.
Nada farei para desvencilhar-me.
Prematura morte, não, no more.
Deixo à mercê do rei tempo.
É inconteste a supremacia das
Boas recordações.
Não é um corpo vegetativo,
Não suplica eutanásia.
É vivaz,
Faz lágrimas,
Faz sorrisos,
Faz ereções.
Portanto
Por      terra
            todos os
lamentos e reclames
e o quê poderia ter sido.
Ledo engano, que outro leito,
Outro ventilador traria o
‘delete’ de memórias.  
Destituo-te então, esquecimento!
São minhas as lembranças,
São elas vívidas e tórridas.
Permaneces, pois, comigo,
Até quando for... 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Hediondo


É hediondo.
Me aniquilei, cintilava uma
Luz crepuscular.
Não tentarei explicar
O que significa pra mim
Não conseguir esquecer o
Cheiro do seu mênstruo,
O que é ter sempre
Sobreposta a todas as outras lembranças
O seu inflado lábio inferior
Enquanto você dormia.
É hediondo.
Me extirpei com maciça
exuberância,   
com a mão esquerda dispus
incertezas, e fracassei com revoltos
assombros que me causavam suas cicatrizes, 
sucumbi em meio as 
falanges debandando as cores
vibrantes dos seus hematomas.  
É hediondo.
Me furtei defronte os
Desfiles de destilados desdéns & deboches,
São outros os deslumbres para os
Vôos de seu macio ventre.
Cicuta e ‘ardenteágua’,
Serpentes e víboras murmuram, estrilam
Perante o feito, o desfeito. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Recusa


                          Ao Som de Hotei Tomoyasu.
                                                                                   Para Quentin T.

Ele. Sorrindo e tentando fazer ar de sarcasmo.
--- Ela certamente sabe que eu já sei,
quer mesmo é ouvir aquele possível convite,
para ter o indefectível prazer de recusá-lo (ignorar)
desconversando ou com o seu sofisticado silêncio,
quase um desprezo.
Ele. Desfaz o idiota sorriso vai até cozinha e pega:
pipoca c/ molho de pimenta & suco de abacaxi c/ hortelã.
Tela do computador.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Conto: Fotografias.


Havia nela uma peculiaridade que me escapava,
Tirou o Ray ban de grau e veio em minha direção.
---Você gosta de fotografia? Indagou. 
Com um aceno respondi que sim.
--- Gostaria de ver algumas que tirei?
Outro aceno afirmativo.
--- Acho que tenho um vinho em casa, vamos?
Gostei daquele modo direto de abordagem, e eu não seria tão otário
Quanto pareço de recusar tal convite.
R. tinha uma voz doce, olhar afável e gesto minucioso;
Mas, o que mais me encantou foram os seios, grandes e firmes,
E uma cintura de causar inveja nas outras mulheres.
No apartamento havia pouca mobília, entanto tudo parecia estar
No seu devido lugar.
Ela falou que precisava ir ao banheiro, se eu poderia abrir o vinho.
--- O saca-rolha está na segunda gaveta- gritou, já com a porta fechada.
No percurso até a cozinha perscrutar fazia-se, alguns livros de
Poesia e de literatura estrangeira, muitos filmes,
Noite N° 1, título interessante para um filme, um cd de Chet Baker;
Mas o meu interesse naquele momento não era sétima arte,
Tampouco letras impressas ou jazz.
Saquei a rolha, servi duas taças; sorte minha, era demi-seco, esperei.
R. saiu com uma bela camisa de seda branca e cinta-liga preta na perna esquerda,
Deslumbrante visão:
--- Merda a outra desfiou! – como se eu fosse me importar.
Ela pegou sua taça e propôs um brinde:
--- Aos que estão no lugar certo na hora exata do click.
­­­­--- Saúde - disse fingindo entender.
--- Fique à vontade, livre-se dessas roupas.
Obedeci.
R. colocou um blues-rock e veio dançando,
---- Adoro cheiros, aromas, olores – disse entre minhas pernas.
Deu uma longa ‘cafungada’ no meu púbis, digo, entre o umbigo e o pênis, disse:
--- Quero você!  
Delírio, um lento e molhado oral, olhava pra cima e sorria com meu êxtase.
Depois cavalgou, que destreza, ora rápido, ora mais lento;
Foi transfigurando-se, então aproximando aqueles lindos seios me pediu
Que mordesse seus mamilos e que enfiasse o dedo em seu rabo (com o qual eu já brincava), ela ia gozar:
--- Vou gozar, to gozando... disse entre soluços.
Foi como se ela tivesse tomado um poderoso calmante, adormeceu e nem viu
Minha explosão, espalhei como se creme fosse e também adormeci.
O sol já ia alto, levantei, me vesti e ‘dei linha’, pensei:
--- Aquelas fotos ficarão pra outro dia.
Num pedaço de papel escrevi o número do meu telefone, e-mail e uma frase do
Efraim M. Reyes:
“Antes que a noite inverta seus desdéns, cante a sua fuga”.  
Desci a ladeira pensando em cerveja gelada, peixe frito e alcaparras com pimenta biquinho.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Depois da chuva


Choveu.
Um desconhecido pula uma poça d’água.
Observo-o sem emotividade.
Reparo no ângulo,
céu nublado ao fundo.
Desconstrutiva paisagem, ruínas.
Penso, porém sem muita reflexão,
- não é hora para inútil perplexidade- 
mesmo se eu tivesse naquele instante
uma moderna digital,  
não chegaria nem perto
da sublimidade de Bresson.
Captar com perfeição requer:
Estar lá no momento preciso, sorte & 
talento.

Sabedor


                                   sabe?!
 não quero que você saiba
                                   sabia que não
                        sendo sábia que sois 
                                   saberás entender.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Poema: Tirinhas


Coisas que detesto:
Frase de ex namorado (a):
- Quero que você seja feliz!

Pedido entusiasmado, mas com ressalva:
-... Mas só se você puder né!

Uma que adoro:
Ficar contando as atarefadas formigas
Em suas insuspeitadas lidas.