domingo, 19 de dezembro de 2021

Por motivos outros

 

por motivos

outros   

 

por meandros

alternativos 

 

por descaminhos

bifurcados

 

por vontades

solapadas

 

perde-se atalhos que

levam ao nada

 

perco de forma mercenária

toda a geringonça

 

perde-se o derretimento

lento e pastoso do tutano

 

perco todas as diretrizes

que me encaminhariam

a uma possível purificação.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Terreno tóxico

 

certo,
eu estava
quase bêbado
mas,
agora veio à luz
não perdi
nada
da baboseira
que foi dito
por você e as ‘suas’
com aquele
entusiasmado feminismo
de buteco copo sujo
de puteiro butique,
sou tóxico sim
entanto,
perto vocês
chernobyl  
não passa  
de um pequeno
morcego surdo,
desço dois 
lances de escadas
volto pra casa
vou ouvir
emma ruth rundle.  

3 livros

 Terminando dois poetas: Jacyntho Lins Brandão e Toninho Poeta,
e começando o esperado: 1933 foi um ano ruim do escritor americano
John Fante (Pergunto ao Pó). 



Pensando em perdão

 

estou aqui pensando em todos os
perdoados,
aqui pensando em todos que
um dia ainda irão me
perdoar,
estou pensando em todos que preciso
perdoar,
pensando aqui, pro me refúgio
não aponta o seu
perdão,  
pensando estou, pro seu altar
direcionar meu derradeiro
perdão,
aqui estou pensando em não me
perdoar,
pensando, todos/ninguém merece ser
perdoado...
 
estou aqui pensando em todos os perdões.* 

*Frase do livro 'Pele de pedra' do amigo e poeta 
Tony Blasted /Toninho.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

O Cético Selo

 O Cético Selo, novo livro do poeta Rodrigo Starling, 
conteúdo rico e diversificado que nos faz pensar e ter esperança,
esperança em nós mesmos, outrem e na poesia; 
ótimo acabamento e bilíngue: português/francês. 
Morrendo aos poucos, entanto, escrevendo sempre do nosso jeito. 
Ora pro nobis, Poesia! 
Parabéns Rodrigo! 

     

Estou quase

 

Eu s’tou muito
previsível,
na arqueologia
do meu caos
chafurdo o
improvável,
falo aquilo
que já sabiam
sempre
sabem de antemão 
o que eu supunha
uma novidade,
desqualificando assim
minha perplexidade;
s’tou quase
invisível,
na arca
do meu desmanche
sua claraboia
não nutri luz
não mais alumia.

domingo, 10 de outubro de 2021

Usando meu trunfo

 

uso meu trunfo

meu as

meu naipe

assim mesmo

ela me julga

um rei nu

destituído

decapitado

 

uso meu trunfo

pra ela um reles blefe

entanto, tenho

uma naja

na manga

um mamute

na cartola

 

uso meu trunfo

de um valete menor

transmuto para

um ogro ébrio

dentro de sua imaginária

bolha de cristais

 

uso meu trunfo

e numa cambalhota linguística

ela me fulmina

seu truco vale 666

     [ardo]

o meu nem um 69 vale

não por isso,

nofap jamais... 


segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Kim, Tarr, Rainer e a Arte Sétima

 

Kim Ki-Duk  [Coréia do Sul]
do arco das estações
aponta sua flecha
para a ilha onde habita o insólito
[animais selvagens]
onde a casa vazia
tem endereço desconhecido
e o tempo não é nada samaritano,
onde sem fôlego acordamos de um sonho
no meio de um mosaico com
imagens esdrúxulas.
 
Béla Tarr [Hungria]
olha para a danação  
com vagar atípico,
as personagens solidificam
na desgarrada solidão
caminham em silêncio
na panorâmica p&b
enxergam suas monstruosidades
no olho ancestral,
Irimiás discursa diante
do cadáver da menina suicida,
extemporâneas e harmônicas
as obscuras imagens nos desconcerta
e sem ritmo nos faz bailar
o tango de satã.   
 
Rainer Werner Fassbinder  [Alemanha]
e sua inúmeras querelas
tanto desespero
tanta violência gratuita
e sexo fácil;
Rainer é incômodo, é visceral,
um estrebuchar com a faca nas entranhas
uma afronta aos gastos costumes,
furor incandescente e sem tempo
para lamentos
para lágrimas amargas.

Nem tudo

 

nem tudo
           todavia
    perto 
                     ver
          o quase
                   e ser
        o todo
           quasar
           que sai
                    vai
           quer ar
           estrela
               sonar
          assim
               se via
     entanto
nem tudo.   


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Da terra e da paz

 Da terra ganhei
o que ainda germina
que transmuta  
e revigora na aridez
do seu antigo cultivo.
 
Da paz ganhei
o que ainda perdido está
que transcende
e reinventa na amputação
que a sua crueza me rogou.
 
Da terra perdi
aquilo que por ventura
seria um legado
aquela parte que transfigura
que revira num sobressalto meu silêncio
aquele seu manuseio fértil,
agora erosão.
 
Da paz perdi
aquilo que ebulições
nos premia com esquecimento
aquela parte turrona que
evapora nas lonjuras
aquele seu manuscrito de bom convívio,
agora solidão. 

Terminando de ler o livro "Terra e Paz"
do poeta alemão/israelense Yehuda Amichai,
belo e profundo.  



quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Inimigos

O INIMIGO SOU EU 
    INIMIGO       MEU 
O INIMIGO        TEU 
                             EU 


 





O que é o inimigo? 
-Eu mesmo! 
Minha ignorância, meu apego, meus ódios.
Aí está realmente o inimigo. DALAI LAMA 
https://www.youtube.com/watch?v=LFjdXkFWdVw 

 

  

domingo, 29 de agosto de 2021

De qual?

 

de qual planeta

você saiu

pra fazer

essa pirueta momesca  

 

de qual caverna

pra dar esse

ornamental giro

esse duplo carpado

 

de qual túnel

você saiu

com toda essa

mise-en-scène

esses malabares

 

de qual cláusula    

com toda essa fúria

de um amotinado

de festim

de espoleta  

 

de qual clausura

você saiu

com essa bipolaridade

ora cara de paisagem

ora de exorcismo

 

de qual mangá 

com essa lâmina kill

essa leonina soberba

essa ânsia de desmoronar brejos

de afundar barquinhos de papel

de soterrar minhocas

 

de qual templo

você recebeu

essa entidade

e mesmo com o

suporte alado

despencas deturpando

o zen intro

 

de qual nave klingon  

você retornou do futuro

para usar com primazia

a indiferença

a petulância  

a ignorância  

 

de qual onipresença

não consciência

você ainda interfere

no meu não/nada

 

de qual?  



quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Não é

 

não é se

        é só

não é sou

        é ser

não é seu

        é sem

não é sim

        é semi

não é subir

        é sumir.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Thievery Corporation

Rob Garza, Eric Hilton & banda, muita criatividade e multiculturalismo. 


   https://www.youtube.com/watch?v=ox_oXtMtXlQ 


  


Pelos ares

 

pelos ares
mandei o quê
ainda restava
pelos mares
esperei, mas
nada emergiu
pelos lares
deitou falação,
deitado eu só
desejava uma felação...

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Poemar

poemar
no momento
insano
no claustrofóbico
instante,
poemar
na hora 
que não diz
seu nome
nome nenhum rogado,
poemar
com a espada
deixar a paz,
poemar
dentro do rubro
ventre
trompas atrofiadas,
poemar
rompendo ilusões  
ocultar idiossincrasias
fingir ser o quê não,
poemar
e sentir o oco causado
o sorrateiro desfiladeiro
pro obsoleto,
poemar
e desprender
da indiferença 
do não mais...                                                                     

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Agrego-me ao cortejo


Agrego-me ao cortejo

anedótico

artificial

aleijão 

 

agrego-me ao cortejo

risível

ríspido

ressonante

 

agrego-me ao cortejo dos

excêntricos

esdrúxulos

extenuados 

 

agrego-me ao cortejo dos

marujos de balde

ases do subsolo

velozes de velocípedes

 

fiquei à ver naus

passou o cortejo

do Ulisses

dos Helênicos

dos Hedonistas

 

nem ouvi o canto das sereias,

nem vi o presente dos gregos

nem nada previ 

 

meu cortejo

afunda

definha

degrada 

 

agrego-me ao cortejo

do mim

do eu só

do sou/sem folia.

domingo, 4 de julho de 2021

Kaváfis e Evans

Lendo Konstantinos e ouvindo Peace piece do Bill Evans,
e outros 3 maravilhosos 'discos' de Samba Jazz. 



Destaque para Ebony Samba, belíssima!

Só os cachorros

 Só os cachorros  
entraram pela porta 
que deixei entreaberta,
nenhum humanista 
nenhum salva vidas(tão em voga) 
nenhum ecologista; 
 
só as cadelas prenhas  
entraram pela greta 
que de propósito deixei, 
nenhuma celebridade
nenhuma 'influencer' 
nenhuma piriguete; 
 
só os raivosos cães
adentraram pelo portal
que suspenso estava, 
nada de entendidos(em porra nenhuma) 
nada de arrivistas(de rede social) 
nada de formadores de opinião... 
 
me dei bem, tive ótimas companhias, 
não foi preciso 'estrebuchar', 'degolar' 
nenhum filho da puta, 
pero, meu sangue fervia por... 

   
 

terça-feira, 15 de junho de 2021

Obliviscaris

nem sol
nem solar
nem solari
nem solaris
     me clareia 
     me desperta
     me desprende
     me norteia 
 
me obscureço
me adultero
me nego
me esqueço
   em tudo
   em todos
   em tempos
   pros tolos.  

terça-feira, 18 de maio de 2021

O clube dos empáticos


Perdi meu passaporte
da empatia,
já não sou aceito
entre os que
falam em nome
da diversidade,
e são os mesmos
que  não tolera
o controverso,
o verso contrário...
 
Perdi meu crachá
da democracia,
já não adentro
a bolha,
fui excluído
sem o direito de levar
a cartilha
ensinando como se
comportar ante as minorias,
sem o direito àquele miserável
panfleto de grêmio-estudantil
com frases prontas
com todas aquelas enfadonhas
frases de efeito
que deve ser repetidas a exaustão...  
 
Perdi a ética,
resta-me usar máscaras
me lambuzar com
o verniz pseudo humanista
sair por aí sinalizando virtudes
apontando o dedo
e mostrando minha valentia
pelo zoom...
 
Perdi (ganhei) minha noite,
baixa e fria madrugada
sem despedida,
mas, ainda pude sentir
o seu destilado ódio (do bem?)
escorrendo como lava
pela escadaria
atrás de mim.

domingo, 16 de maio de 2021

Palestina e Israel

 Palestina e Israel: dois filmes.
Entre o céu e a terra.
Palestina
2019 
Drama 
1:30m 
Diretora: Najwa Najjar 

    

















Gesto obsceno.
Israel 
2006 
Drama 
1:40 
Diretor: Tzahi Grad 




quarta-feira, 12 de maio de 2021

Adeus Leone

 Mais de dois meses da partida do Amigo, oportuno reler alguns poemas 
do seu legado, relembrar passagens agradáveis em sua companhia 
e fazer um brinde. Usando uma expressão do Tutti Maravilha 
"virou estrela" e está luzindo na imensidão, sobre nós.  

 










 









Alexandre, Leone, Israel e Edson.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Sou apenas

 

Sou apenas

uma figura 

de retórica,

uma narrativa

mal alinhavada,

apenas algumas

soltas palavras

que foram expelidas

e submergem

das erupções

de um ego silente,

e que ainda ousa

-fútil tentativa-

se esconder na

própria sombra;

 

sou nada além

que um camaleão

as avessas

expondo indevidamente

improbidades minhas,  

e camuflando nas

desimportâncias de outrem,

nada além

de um aleatório

incumbido na

incomunicabilidade,

e que sempre sucumbe

ante a meticulosa

indiferença alheia.