domingo, 25 de agosto de 2013

Ritual



Tsunami no deserto  

é certo

eu sei

eu vi

a sua nudez me mostrou

chama ardente

pariu nas veredas

a minha mudez guia

labirinto

castiçal & castigo

é certo

eu sei

eu vi

era

ritual.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Conto: Conversa de Buteco



 Mesa de bar, rolando a música 'Vôo de Ícaro do Robertinho de Recife; ela está de penteado 
novo que à princípio ele nem nota, ele com o cachecol que foi um presente dela. 
Algo do tipo: 'Sobre Café e Cigarros' do diretor americano Jim Jarmusch.                                                                                                                                                                                                          

- Há em seu semblante uma interrogação, parece trovejar.                                             - Você está mais pra Chico Buarque do que para Nelson Rodrigues.

- Hummmm????

- Tento explicar: você está mais para ‘mil perdões’ do que para

‘perdoa-me por me traíres’, é como se a culpa de você estar traindo

fosse sempre do babaca, e quando é traída nunca fosse culpa sua,

imunidade adquirida,  eu posso, mas não admito, tipo isso.

- Nossa quanta perspicácia meu querido...

- O cinismo e o sarcasmo não ficam bem em ti, deixe isso pra suas amigas;

é você aviltando o outro e concedendo pra si mesma o perdão

por um erro semelhante.

- Além de filosofia agora temos psicologia de buteco, vamos lá continue

esta profunda análise da minha persona, atire pedras, faça e seu julgamento,

condene a minha fraqueza carnal.

- Pare de se fazer de vítima, encenação despropositada...

- Vamos pedir outra garrafa de vinho?

- Claro, este papo chato me deu fome...

- Quero o meu ao alho.

- Prefiro à bolonhesa.

- Em pelo menos uma coisa você acertou.

- O quê?

- Chico Buarque, adoro. 

Ela cantarola: ...futuros amantes, quiçá

               se amarão sem saber

               com o amor que um dia

               deixei pra você. 
- Bom, mas você precisa desprender um pouco deste velho tour

sempre com as mesmas paradas.

- Entendo, depois que comermos pegarei umas dicas contigo.

- Será um prazer.

- O prazer próprio é o que conta, não é?

- É!

- Mas, por favor, não venha com aquela barulheira Avant-Garde.
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domingo, 18 de agosto de 2013

Pólvora



A pólvora vai começar
                   a pipocar
corra enquanto há sol  
negligencie os burburinhos
nada de infestar lágrimas
alegria é pra depois
a sobra é seu todo
                    tudo que
   sobrar é o que você
poderia ter sido
            ter tentado
insistido eu poderia ter
                              ter
tido coragem
a pólvora vai começar
não lamentos não
corra enquanto não vem o sol.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Conto: O Livro



 Com aquela completara a terceira vez que ele ia à minha
casa tentar vender outro livro.
Novamente houve o desencontro, por onde eu andava e
o quê eu fazia sabe-se lá, provavelmente bebendo vodka
barata e batendo cabeça, não importa.
Em certa ocasião tive a oportunidade de dar uma olhada  
naquele baú, baú de espantos, de bardos tantos, junkeis;
claro estava, ali havia nova chance de adquirir por uma 
‘pechincha’ um bom material.   
Caminhada perdida deixou-me um bilhete, rabiscos é verdade 
que dizia o que segue:
                                        Belo Horizonte, Inverno de 1995.
              Camarada Israel!!
Assim como Sade, Baudelaire, Rimbaud, Lautrèamont, 
Genet também teve sua alma chamuscada pela mesma
pirotecnia sísmica inerente ao mesmerismo que excita
em sobressalto!!
Suas personagens degradadas e esfoladas por ele mesmo,
quê é ele mesmo desdobrando-se e amalgamando-se na
pletora dos seus temas...
É dispensável qualquer apresentação.
É apenas para exercitar os punhos mercenários.
Que Nossa Senhora das Flores o proteja!!!!
Dos apáticos, dos políticos, dos intelectuais,
das greludas, da masmorra e da poesia engajada...
                               do seu amigo
                                                                          Karide  
Jean Genet, sim, autor de ‘Diário de um ladrão’,
livro que eu já havia lido à alguns anos e gostado muito.
Estava ali maneira mais fácil de acrescer aquela pobre
estante minha.
A pressa não se fazia, deixei que o ‘Influências’ terminasse,
coloquei a bermuda surrada, peguei as economias que era  
para a garrafa de destilado no final de semana e fui em busca
da nossa senhora, ia já ensaiando alguns pedidos, 
que ela me desse além de proteção, inspiração para a poesia
e muita disposição e desenvoltura com as greludas. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Prometido



Lembre-se do que prometi
depois venha
desprenda do torpor
pelo chão o pavor
no bidê todo o insolente pudor
 mas venha
   trazei  os
olhos pintados
  cicatrizes   rebuliços
o ventre em ebulição
           eruption
e não se perca
ruelas   repentes   redemoinhos
gladiar com os fetiches
                 realizá-los
 intervenha
no jubiloso ruir        nos
  ruídos paulatinos     
o rufar é longínquo   
   venha  terás
espasmos cãibras espasmos
               orgasmos
esqueça o prometido.