segunda-feira, 23 de maio de 2022

Você, realmente não é tão especial assim

 

Eu tinha acabado de abrir meu vinho tinto seco
e
colocado na vitrola o 4*mov. da sinfonia n*9 do Dvorák
e o
telefone tocou:
era ela perguntando (de forma intimidatória)
se eu já tinha escrito o poema que 
eu havia prometido;
nem sequer lembrava-me que tinha feito
tal promessa;
tentei argumentar que naquele (suposto) dia
misturei tequila com cerveja
e
essa bomba me
provoca uma terrível amnésia;
façamos um acordo -eu disse-
tenho aqui um gatinho filhote que é uma graça
e
acompanha um livro do Fonseca
mas,
assim que ‘pintar’ uma inspiração...
furiosa, com a respiração ofegante
e
fingindo controle -ela disse-
não, deixa pra lá, não quero mais nada!
calma, eu vou...    
ela desligou;
pasmo
lembrei de Clark Gable (...e o vento levou)
‘francamente, querida, eu não dou a mínima;
completei minha taça,
e
dei um bom gole,
nada cabalístico, signo, cartas ou coisa que valha,
mas, eu ia continuar no número 9,
agora com Beethoven,
sinfonia n*9 ode à alegria;
sorri e afaguei minha gata tricolor,
frase que ouvi de lugar qualquer
ou seria de para-choque de caminhão:
‘você, realmente não é tão especial assim’;  
por conta dos efeitos do vinho
resolvi deixar ‘os desajustados’
para amanhã,
novamente o sr. Gable e a belíssima Monroe,
fim de outono
noites frias
preciso procurar meu cachecol
e
deixar o ranço alheio escorrer
pelo ralo. 




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